sábado, 5 de novembro de 2011

Mudança de endereço obrigatória


fonte: DOL(www.diarioonline.com.br)
Revelino Fernandes
Algumas ações da sociedade, a priori vistas como inúteis e ineficazes, são primordiais para confirmar que o indivíduo ainda existe e resiste às atitudes políticas que são tomadas pelos poderosos, sem a nossa participação ou consentimento, e que influem diretamente na cultura e história de nosso povo.
Um dia desses, ao passar de ônibus pela extinta Travessa Apinagés, atualmente denominada de Travessa Jerônimo Rodrigues, umas das principais vias de Belém, pude perceber o quanto os moradores se sentiram desrespeitados com a mudança inesperada feita pela CMB, de autoria do vereador Gervásio Morgado (PR).
fonte: sociedadeparaense.blogspot.com
Não foi necessário descer do ônibus e perguntar para algum morador daquela rua se ele estava de acordo, feliz com a mudança no nome da travessa. Qualquer indivíduo de bom senso notaria na maioria das casas uma placa com a escrita “Essa rua se chama Apinagés, do começo ao fim”, ou então perceberia uma tarja de tinta preta ocultando o nome de Jerônimo Rodrigues nas placas de endereço nas esquinas, ou ainda perceberia a falta dessas placas, arrancadas pelos próprios moradores. Atitudes de vandalismo? Não. Essas atitudes reforçam apenas o sentimento de desconforto de uma população que ainda se importa com as mudanças que são sancionadas pelo poder público sem a nossa participação.
Essas atitudes, as do poder público, me trouxeram à mente alguns pensamentos indagadores. Primeiro, porque eles tomam essas atitudes tendo tantas outras coisas mais importantes para fazer? Será possível que trocar o nome de uma rua e mudar forçadamente o endereço das pessoas é mais importante e necessário do que, pelo menos tentar, mudar a realidade de muitas ruas de Belém, que estão em condições deploráveis quase impossibilitando o tráfego livre e seguro das pessoas, vistas cansadamente na imprensa todos os dias? Será que dar mais trabalho e confusão às pessoas, ao GPS e ao carteiro, que precisam se readequar ao novo endereço, é mais vantajoso e objetivo do que dar exemplo histórico e cultural, mantendo o nome da Travessa Apinagés e respeitando nativos que foram tão importantes para o desenvolvimento de nossa cultura, e que merecem sim pelo menos a homenagem de serem consagrados como nome de Rua?
Essa não é a primeira vez que acontece um desapontamento dessas dimensões com a população de Belém. Assim ocorreu com a extinta 25 de Setembro, hoje intitulada de Rômulo Mairona. Ressalto que não tenho nada contra a memória das pessoas que tiveram seus nomes descerrados nas ruas, muito pelo contrário, acredito que Belém está precisando mesmo de novas vias e, consequentemente , vias com nomes. Portanto não há a necessidade de trocas e sim de criação.
O mais vergonhoso de tudo isso é que há rumores de que a votação foi ilegal, segundo o vereador Alfredo Costa (PT), um dos descontentes com a decisão. Alfredo Costa e Marquinho do PT votaram contra a mudança e são os únicos que estão, em conjunto com os moradores, reivindicando o cancelamento da lei.
Fato é que persistem os costumes sujos da maioria dos políticos, que só procuram saber e persuadir a opinião pública em época de campanha política. Ocasião em que todos vestem suas batas de humildade e tratam todo mundo com uma educação e solidariedade de comover até os mais espertos. Depois disso a bata é trocada pelos ternos engomados e as gravatas de linho e foda-se a opinião pública.